Os últimos falantes da Língua Baré

Ademar dos Santos Lima, Silvana Andrade Martins, Jéssica Nayara Cruz Pedrosa

Resumo


Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de pesquisa sobre os últimos falantes da língua Baré no Amazonas, Brasil. Trata-se de um estudo sobre a língua do povo Baré e de seus falantes mais idosos que, nos anos 90 ainda lembravam de vocabulários da língua Baré. As metodologias utilizadas foram abordagem quali-quantitativa, levantamento surveys, de pesquisa de campo e do método das comparações léxico-estatísticas, de Morris Swadesh (1958) e as técnicas empregadas foram de entrevista focalizada. O estudo constatou que os Baré mais idosos ainda lembravam de palavras na língua Baré, da família Arawak do ramo Maipure do Norte. A pesquisa apontou também que somente alguns Barés acima dos 70 anos conseguiam lembrar de alguns vocabulários nesta língua, mas não conseguiam formar frases e/ou sentenças, apenas lembravam de palavras soltas. Este processo de desaparecimento da língua Baré começou no século XVII e se acentuou nos séculos XVIII e XIX, de forma que no final do século XIX já não havia mais falantes fluentes em língua Baré e os mesmos passaram a falar o Nheengatu como língua étnica. Deste modo, nossa pesquisa, realizada em 2017 com os Bare mais antigos, aponta que não há mais entre a população idosa deste povo alguém que conseguisse lembrar palavras em Língua Baré.


Palavras-chave


livro didático; educação diferenciada; Terena.

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DOI: http://dx.doi.org/10.20435/tellus.v19i39.584

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