Educação escolar indígena: um estudo sociolinguístico do nheengatu na comunidade Pisasu Sarusawa do rio Negro, Manaus, AM

Ademar dos Santos Lima, Silvana Andrade Martins

Resumo


Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de pesquisa da língua nheengatu na comunidade Pisasú Sarusawa do povo Baré, no município de Manaus, Estado do Amazonas. Trata-se de um estudo sobre a situação sociolinguística na escola indígena Puranga Pisasú. As metodologias utilizadas foram abordagem quali-quantitativa, pesquisa de campo e de estudo descritivo, e as técnicas empregadas foram questionário semiestruturado, entrevista e observação participante. A pesquisa faz parte do projeto em andamento “Educação Escolar Indígena: um estudo sociolinguístico do nheengatu no município de Manaus”, cujo objetivo final foi avaliar o grau de manutenção, ameaça de deslocamento sociolinguístico e/ou o processo de revitalização da língua nheengatu por meio do ensino oferecido pela escola em questão. Foram pesquisados 128 informantes sobre competências e habilidades na fala do nheengatu. O estudo constatou que, destes, apenas 25, na faixa-etária acima dos 40 anos, falam fluentemente a língua, 38, na faixa-etária entre 20 a 39 anos, apenas entendem e sabem falar algumas palavras, os demais, 65, na faixa-etária de 3 a 19 anos não falam e apenas entendem a língua geral. O estudo verificou também que houve uma descontinuidade na transmissão do nheengatu entre este grupo de falantes, que passaram a falar mais o português. Atualmente, a língua geral passa pelo processo de revitalização na comunidade do povo Baré.

Palavras-chave


línguas indígenas; bilinguismo; revitalização.

Texto completo:

PDF

Referências


AMAZONAS, Estado [de]. Secretaria de Estado da Educação e Qualidade do Ensino. ­Resolução/CEE/AM n. 11, de 13 de fevereiro de 2001. Normas para criação e funcionamento da escola indígena, autorização e reconhecimento de cursos, no âmbito da educação básica no estado do Amazonas, e da outras providências. Manaus: CEE, 2001.

______. Secretaria de Estado da Educação. Resolução/CEE/AM n. 99, de 19 de dezembro de 1997. Estabelece normas regulamentares para implantação do Regime instituído pela Lei n. 9.394/96, no Estado do Amazonas. Manaus: CEE, 1997.

BESSA FREIRE, José Ribamar. Da língua geral ao português: para uma história dos usos sociais das línguas na Amazônia. 2003. 239f. Tese (Doutorado em Literatura Comparada) - Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2003.

BOAS, Franz. Antropologia cultural. Tradução de Celso Castro. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística em sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.

BRAGGIO, Silvia Lúcia Bigonjal. As diferentes situações sociolinguística e os tipos de empréstimos na adição do português ao xerente akwén: fatores positivos e negativos. Liames, Campinas, v. 12, p. 157-77, 2012.

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília: Congresso Nacional, 1988.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: (9.394/96). Apresentação de Carlos Roberto Jamil Cury. 4. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

______. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI). Brasília: MEC/SEF, 1998.

______. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB n. 5, de 22 de junho 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Brasília, DF: MEC/CNE/CEB, 2012.

CABALZAR, Aloísio; RICARDO, Carlos Alberto. Povos indígenas do Alto e Médio Rio Negro: uma introdução à diversidade cultural e ambiental do noroeste da Amazônia brasileira. São Paulo: ISA; São Gabriel da Cachoeira, AM: FOIRN, 1998.

CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. Tradução de Marcos Macionilo. São Paulo: Parábola, 2002.

CRYSTAL, David. Dicionário de linguística e fonética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1973.

Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro; Instituto Socioambiental (FOIRN-ISA). Povos Indígenas do alto e médio Rio Negro: uma introdução à diversidade cultural e ambiental do noroeste da Amazônia brasileira. Brasília: MEC/SEF, 2006.

FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI). Educação Escolar Indígena. [s.d.]. Disponível em: <http://www.funai.gov.br/index.php/educacao-escolar-indigena>. Acesso em: 10 out. 2015.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

HANKS, William F. Língua como prática social: das relações entre língua, cultura e sociedade a partir de Bourdieu e Bakhtin. São Paulo: Cortez, 2008.

HYMES, Dell. Foundations in sociolinguistics: an ethnographic approach. Philadelphia: University of Pennylvania Press, 1972.

______. Morris Swadesh. Journal Word, v. 26, n. 1, p. 119-38, 1970. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/00437956.1970.11435588.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). [s.d.]. Disponível em: <http://cod.ibge.gov.br/3WL/>. Acesso em: 29 out. 2016.

LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2008.

LIMA, Ademar dos Santos. Educação escolar indígena: um estudo sociolinguístico do nheengatu na escola Puranga Pisasú do rio Negro, Manaus, AM. 2016. Dissertação (Mestrado em Letras e Artes) – Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus, AM, 2016 

MACKEY, Willian. The description of bilingualism. In: WEI, Li. The bilingualism reader. London, New York: Routledge, 2000.

MANAUS, Cidade [de]. Secretaria Municipal de Educação. Planta de localização da comunidade Pisasú Sarusawa. Manaus: Centro de Mídia, 2016.

______. Decreto n. 90/2009. Cria Gerência de Educação Escolar Indígena (GEEI). Manaus: Rede Municipal de Ensino, 2009.

MELGUEIRO, Zilma Henrique. A situação sociolinguística nas escolas indígenas Irmã Inês Penha e Dom Miguel Alagna na cidade de São Gabriel da Cachoeira – AM. 2012. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, BA, 2012.

PACHECO, Frantomé Bezerra. Análise da produção sobre as línguas dos povos indígenas do Amazonas. In: SANTOS, Gilton Mendes (Coord.). Amazonas indígena: um mapeamento das instituições e da produção bibliográfica sobre os povos indígenas no estado. Relatório final. Manaus: FAPEAM, 2009.

PINHEIRO, Aquiles Santos. Identidade, língua e cultura: usos sociais e políticos do Nheengatu na comunidade indígena do Cartucho, no Médio Rio Negro – AM, 2011. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, 2011.

POSTO de saúde comunitário Uka Yane Pusanga. Comunidade Pisasú Sarusawa. Manaus: SEMSA, 2016.

PROJETO Político Pedagógico. Escola Municipal Puranga Pisasu, Manaus, 2015.

QUEIROZ, D. T.; VALL, J.; SOUZA, A. M. A. ; VIEIRA, N. F. C. Observação participante na pesquisa qualitativa: conceitos e aplicações na área da saúde. Revista Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 276-83, abr./jun. 2007.

RENAULT-LESCURE, Odile. As línguas faladas pelas crianças do Rio Negro, Amazonas: descontinuidade na transmissão familiar das línguas. In: FRANCO, Heliana Brito Franco; LEAL, Maria de Fátima Mendes (Org.). Crianças na Amazônia: um futuro ameaçado. Belém: Universidade Federal do Pará/UNICEF, 1990. p. 315-24.

ROMAINE, Suzanne. Bilinguism. Cambridge, Mass: Blackwel, 1995.

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.

TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e linguística. São Paulo: Contexto, 2008.

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Interactive Atlas of the World’s Languages in Danger. [s.d.]. Disponível em: <http://www.unesco.org/languages-atlas/index.php/>. Acesso em: 4 out. 2016.

VERGARA, S. C.; PECI, A. Escolhas metodológicas em e estudos organizacionais. Organizações & Sociedade, Salvador, v. 10, n. 27, p. 13-26, 2003.




DOI: http://dx.doi.org/10.20435/tellus.v17i33.443

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


ISSN Impresso: 1519-9452 - até TELLUS ano 14, n. 27, jul./dez. 2014
ISSN Eletrônico: 2359-1943